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Aprendendo com Eles, Sobre Eles

Aprendendo com eles, sobre eles

Sabe por que os cães parecem nos compreender tão bem? Porque eles nos observam o tempo todo, mesmo quando achamos que estão longe, distantes em suas atividades corriqueiras, ou no recolhimento sossegado dos seus cochilos. Se olharmos bem, mesmo nestes momentos, as orelhas, vez por outra, movem-se ao perceber um som, na maioria das vezes inaudível para nós; perceberemos na tranquilidade do sono entrecortado por suspiros, um focinho movendo-se freneticamente enquanto identifica quem chega e quem sai, se vai chover ou se os ventos que o crepúsculo traz consigo prenunciam uma noite fria ou enluarada e quente; se o dia que se aproxima será de sol e calor, se é chegado o momento de aproximar-se da mesa ou manter-se afastado dela.

Observar para melhor compreender nossos amigos peludos

É, seria interessante observarmos os cães com mais atenção e cuidado. De fato, ficaríamos muitíssimo impressionados com a quantidade de informações e interações possíveis quando do contato mais estreito com os nossos amigos peludos. Infelizmente porém, a realidade é bem distinta do ideal, e o preço que pagamos por investirmos muito pouco tempo com os nossos amigos de quatro patas é a falta de uma compreensão mais clara do seu comportamento; observo isso todos os dias na lida com os cães e seus donos. As interpretações de alguns comportamentos dos cães por parte dos seus donos são tão distantes daquilo que os cães realmente desejam transmitir que eu as denominaria “abismais”.

Aprendendo enquanto apenas observamos

Experimente deter-se diante do seu cão por alguns minutos e observe-o. Faça isso por alguns dias. Não fale nada, não faça nada, apenas observe. Você ficará admirado com as descobertas que irá fazer e não demorará muito para começar a compreender claramente algumas atitudes e intenções do seu cão, só observando-o! Em muito pouco tempo você aprenderá, por exemplo, que quando um cão dominante coloca a cabeça dele embaixo da sua mão, ele não está pedindo carinho, mas sim exigindo-o. Neste caso, você deverá assumir – ou reassumir – a condição de líder (retomando para si a dominância) com uma ação simples: este cão só poderá receber carinho depois de aceitar algum comando (por exemplo, “senta”).

Invista algum tempo com o seu cão e aprenda com ele, sobre ele mesmo.

Até a próxima!

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Psique Canina

Cosmovisão e Cognição Caninas

É bastante comum nos depararmos com relatos de proprietários de cães que traduzem as ações e reações destes segundo as suas perspectivas, humanas. Que lamentável engano!

De pronto temos que fazer saber ao nosso leitor que os cães têm uma visão muito própria acerca do mundo que os cercam. Isto significa que as ações e reações deles embora possam ser comparadas com as quais racionalmente vivenciamos em nosso dia-a-dia, na verdade distam em muito das nossas, isto é, a percepção da realidade e cosmovisão dos cães são muito próprias, são caninas, não humanas. Alexandra Horowitz, Ph.D., nos faz saber que “Ao olhar em volta, o cão não pensa que está rodeado por objetos humanos; ele enxerga objetos caninos.” ¹

Códigos Mais do que Palavras

Quando sabemos disso e avaliamos as atitudes de nossos amigos caninos não mais segundo as nossas próprias percepções, mas sim segundo as percepções deles, estaremos dando um passo gigante em direção a compreensão das suas reações e consequentemente de uma percepção mais nítida, mais aproximada dos seus desejos, necessidades e intenções. Neste ponto, devemos lembrar que o nosso falar para o cão é tão enigmático quanto o latido destes para nós. Os cães reagem segundo os códigos que mesmo sem intenção, criamos e estabelecemos para uma infinidade de ações que resultarão em comunicado expresso ao nosso amigo daquilo que estará por vir. Assim, ele reagirá prontamente a estes códigos, fazendo parecer para nós humanos, que o cão sabe exatamente o que esperamos deles.

Criando códigos

Criamos códigos sem perceber, mas como isso se dá? Simples. Todos os dias em um determinado horário lançamos mãos da guia e da coleira do nosso amigo com a intenção de levá-lo para passear. Imediatamente nosso amigo corre para a porta e espera sentado que coloquemos a coleira em seu pescoço e atrelemos a guia a esta; e, ato contínuo, abramos a porta para sairmos com ele. Não demora muito e perceberemos que sempre que tocamos na coleira e guia o nosso amigo ruma em direção à porta e ali permanece a fim de que seja atrelado a coleira e guia para mais uma prazerosa jornada de trabalho. Então deduzimos: “Nossa, como é inteligente, sabe que iremos passear!”

Você poderia lançar mãos da coleira e guia apenas para mudar o lugar aonde tais objetos permanecerão, mas para o cão esta ação não significa outra coisa senão “ir trabalhar” (erroneamente chamamos de “passear”) e então corre para a porta.

Lógica Humana x Lógica Canina

Théo Gygas ², conhecido cinófilo e ainda hoje referência em adestramento e comportamento canino, relata um episódio muito curioso que exemplifica bem como o cão reage ao que se passa diante de si. Conta-nos ele que certa vez ao passear nas margens de um rio, um garoto com um boné na cabeça se aproximou muito da margem vindo a cair neste. Enquanto o garoto de debatia nas águas para não se afogar, seu boné, mais leve, flutuava à sua frente. Seu cão, que o acompanhava de perto instintivamente saltou na água e salvou primeiramente o… boné! Para o cão, o risco de morte não existia, porém, ao ver o garoto de debatendo nas águas e o boné deste seguindo apressadamente à frente, entendeu que isto significava brincar de pegar a caça, que no caso estava sendo representado pelo boné fujão.

Após “salvar” o boné, o cão retornou à margem com a “presa” na boca. Ao perceberem o boné encharcado na boca do cão, os adultos partiram em busca do garoto, salvando-o da morte certa. O leitor poderá dizer: “Mas, que cão insensato! Melhor seria que salvasse o garoto e deixasse o boné ser levado pela correnteza!” Veja, esta é uma percepção inteligente, lógica, humana, não canina!

Facilitando a Comunicação

Com estes exemplos asseveramos: não deduza as ações e reações do seu cão segundo as suas próprias interpretações. Ele, o seu cão, as vê de forma diferenciada, instintiva e basicamente reforçada naquilo que poderá ser um retorno positivo ou negativo. Neste sentido e, utilizando como mecanismo de comunicação o recurso do condicionamento positivo (Konrad Lorenz) e o reflexo condicionado (Ivan Pavlov), poderemos estabelecer um diálogo que seja mais compreensível para o cão e então obteremos sucesso não somente em nos fazer compreender, mas também de interpretar o que o nosso amigo deseja comunicar-nos, tarefa nem sempre tão fácil dado que, uma vez mais lembramos, o latido dele é para nós tão enigmático quanto as nossas palavras para ele.

Voltaremos a entrar neste tema mais adiante, por hora, compreenda bem que o seu cão não é inteligente; inteligente é você, que com esta faculdade tão singular poderá facilitar grandemente a vida do seu cão, tornando-a mais aprazível ao seu lado, que para o seu amigo, é o melhor lugar do mundo!

Invista tempo com o seu cão!

Até a próxima!

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¹ Horowitz, Alexandra. A Cabeça do Cachorro. 1ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2010. pg 183.

² Gygas, Théo, O Cão em Nossa Casa. 47ª ed. São Paulo: Dicubra, 1970. pg 207.

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Homens & Cães

Começos: Lenda x Ciência

Nos começos da humanidade, o homem passeava com todos os animais a sua volta enquanto dava nomes às espécies quando, de repente, uma fenda começou a se abrir na terra dividindo-a e antes que a fenda se tornasse larga demais o homem saltou para o outro lado e neste momento o único dos animais ali reunidos que saltou para o seu lado foi o cão.

Esta é uma lenda muito conhecida no meio cinófilo e que traduz de forma bonita e romanceada a proximidade e afinidade entre dois seres tão distintos ao longo dos milhares de anos de existência da humanidade.

Já os vestígios fossilizados de ossadas e excrementos de cães próximos aos sítios das escavações arqueológicas daquilo que outrora se constituíam comunidades humanas nos oferecem uma explicação científica e, portanto, algo mais perto daquilo que pode se constituir o motivo da proximidade entre o homem e o cão ao longo da história da humanidade e da “canicidade”. Ocorria que o homem necessitava sair à caça diariamente para manter a prole, obrigando-se a deixar esta sozinha e suscetível ao ataque de feras, tribos ou clãs rivais e perigos  os mais variados. Com o passar do tempo o homem se deu conta que um grupo de animais muito específico o seguia em suas incursões quando a mudança de território se fazia necessária (caça, alterações climáticas, guerras e contendas com outros grupos, acidentes naturais, etc.).

Comida em Troca de Segurança

Não demorou muito para ficar claro e evidente para o homem o motivo pelo qual aqueles animais o seguiam, uma vez que as sobras diárias do alimento que eram desprezados por este, se constituíam em uma providência sempre bem vinda para os cães, que nem sempre tinham a mesa posta. Em troca, os cães instintivamente ofereciam sinais claros e evidentes quando algo na rotina da comunidade estava para ser alterada. Dado os seus sentidos muitíssimo mais apurados que os do homem, a proximidade de qualquer outro animal ou indivíduos eram imediatamente denunciados pelos cães que se mantinham nas proximidades, garantindo um eficiente sistema de alarme e possibilitando ao homem ações rápidas para defesa e proteção da comunidade. Muito rapidamente esta parceria se consolidou e o cão que antes vivia a margem dos acampamentos, logo fora introduzido para o interior das cavernas, choças, barracas e habitações humanas. Não demorou muito para que onde estivesse um ser humano, haveria ali também um cão.

Em nosso próximo artigo conheceremos um pouco sobre a psique, cognição e cosmovisão caninas.

Divirta-se com o seu cão!

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Seja Bem-Vindo ao Blog da Cino Filo

“Um Trabalho Desafiador!”

Foi este o pensamento que norteou meu retorno ao trabalho no período da tarde depois do intervalo para o almoço daquele dia surpreendente. A ideia de contribuir com minha experiência como adestrador e consultor de comportamento canino me excitava, e, paradoxalmente, atemorizava. E não sem motivos, dado que ao longo de mais de trinta e dois anos de trabalho com nossos queridos amigos, os cães, o compartilhamento de minha vivência com estes se limitava às consultas oferecidas e palestras orientativas, aqui e ali, sempre para uma assistência muito específica.

O projeto pessoal de transmitir tal experiência sob a forma escrita em uma plataforma na internet então, é inédita; embora não seja este o primeiro (e certamente não será o último) blog com este mesmo tema publicado por outros cinófilos e entusiastas de cães.

A proposta é deixar de lado a abordagem técnica e científica tão comuns na literatura especializada, sem que isto signifique desenvolver uma leitura muito simplista e/ou reducionista do tema. Como sugestão, queremos estimular o leitor a enviar suas dúvidas e contribuir com sugestões para o aprimoramento desta experiência compartilhando os avanços que o conhecimento e soluções que doravante apresentaremos geraram. Nosso objetivo será sempre ajudar na aplicação das dicas oferecidas tornando a comunicação e consequentemente o convívio entre o leitor e seu cão mais estreito, harmonioso e prazeroso possível.

 Se dentro desta ementa e perspectiva este trabalho acrescentar minimamente ao amigo leitor, o nosso objetivo terá sido amplamente alcançado.

Boa leitura!