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Por que os Cães Cheiram as Partes Íntimas das Pessoas?

COMPORTAMENTO CONSTRANGEDOR

Você acaba de chegar na casa de um amigo e o cão dele imediatamente se dirige até você e cheira suas partes íntimas. Quem nunca?

Este é seguramente um comportamento canino reconhecidamente muito constrangedor, mas o que há por trás dele? Nossos amigos de quatro patas têm necessidade de fazer isso? É apenas uma brincadeira ou se trata de “saliência” canina?

A razão de se tratar de algo tão vergonhoso para nós, reside, em parte, no fato de que além de causar estranheza, desconforto e constrangimento, o assunto infelizmente é pouco comentado e discutido, gerando mais constrangimentos ainda. Mas, a despeito do debate (ou falta dele) por que os cães agem desta forma?

“JORNAL CANINO”

É sabido que o faro dos cães é infinitamente mais poderoso que o dos seres humanos. A ciência contudo ainda não conseguiu determinar com precisão a capacidade olfativa dos nossos amigos peludos; sabe-se porém através de estudos e pesquisas que este sentido tão aguçado é vital para os canídeos. Em analogia, não é exagero afirmar que o faro está para os cães, o equivalente aos noticiários que assistimos diariamente na televisão, ouvimos em podcasts e lemos nas redes sociais na internet e em várias outras mídias.

Para os cães, o mundo passa pelo focinho.

No artigo que preparamos para você e brevemente publicaremos, vamos nos deter de forma mais abrangente sobre o faro dos cães. Não perca!

COMPORTAMENTO NATURAL

Antes de seguirmos adiante é fundamental que você saiba que os cães têm este comportamento por uma razão plenamente justificável. E depois de saber que razões são essas, além de compreendê-los mais e melhor você continuará amá-los como sempre.

ENTENDENDO O COMPORTAMENTO

Os cães desconhecem o desconforto que as pessoas sentem quando eles agem desta forma porque para eles isso é muito natural e o objetivo é saber mais sobre o quê e quem eles cheiram. Como todos os mamíferos eles têm estruturas chamadas glândulas sudoríparas apócrinas. Estas glândulas estão espalhadas por todo o corpo deles, mas nas partes íntimas e na cauda elas são responsáveis pela produção de uma substância chamada feromônio, que têm um apelo odorífico muito forte e particular.

Os feromônios são os responsáveis pela “leitura” que o olfato faz uma vez que através deles os cães obtêm informações sobre o sexo, idade, humor e mudanças hormonais das outras espécies. É como um cartão de visitas que estabelece o contado entre os animais.

Uma vez que os feromônios são os agentes de informações da maioria dos seres vivos, os cães os cheiram para conhecer e processar os dados daquele indivíduo, e os lugares onde estes são encontrados com o nível mais alto são as áreas genitais. Da mesma forma que os humanos estendem as mãos e conversam, os cães se cheiram para se conhecerem.

Quando eles fazem isso com humanos o objetivo é o mesmo, logo, a intenção é saber mais sobre nós. Eles colocam o focinho nas partes íntimas porque as glândulas sudoríparas dos seres humanos não se encontram em todo o corpo, mas sim nas axilas e na virilha, então instintivamente vão direto para lá. Se eles o fazem com as visitas que recebemos em nossa casa, pessoas estranhas para ele é apenas para obter informações sobre elas; se o fazem com os donos, é para saber como está o humor do dono naquele momento.

Não é, portanto, nenhum tipo de atitude anormal, mas consonante com a sua natureza. Curiosamente e em particular, os cães tendem a cheirar as partes íntimas das mulheres durante o ciclo menstrual, quando deram à luz ou estão amamentando, ou quando estão no período da ovulação ou, em geral, de pessoas que tiveram relações sexuais. A razão é clara: o cheiro dos feromônios é mais forte e mais consistente.

Então, o que parece estranho para nós, aos animais é perfeitamente normal!

O QUE DEVO FAZER SE O CÃO VIR CHEIRAR AS PARTES ÍNTIMAS?

É importante não tocar no cão. Não tente remover a cabeça dele de onde ela se encontra, procure não dar atenção, não dê “ibope” ao comportamento, pois o cão poderá achar que você está convidando-o para interação, o que poderá, ainda que sem querer, reforçar o comportamento; daí o que deveria ser apenas uma ação natural passa a ser um gatilho, um código para ele requerer a sua atenção. Em geral o ato de farejar leva apenas alguns segundos, tempo suficiente para o cão realizar a “leitura” de que necessita e assim obter as informações que foi buscar, imediatamente após isto ele irá se retirar. Se a ocasião exigir, no máximo dê as costas para o cão ou levante-se “incontinenti” de onde está sem falar nada e também se possível sem olhar para ele.

QUEBRANDO O CONSTRANGIMENTO

Agora que sabe os motivos que remetem o cão a ter este comportamento às vezes até involuntariamente, você não deve se sentir envergonhado ou constrangido. Mas, e quanto às visitas? Aproveite e quebre o constrangimento momentâneo esclarecendo-as sobre esta atitude natural dos cães e mostre o quanto você conhece sobre os comportamentos do seu amigo.

Invista mais tempo com o seu cão.

Até a próxima!

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Cães que Montam

DÚVIDA COMUM

Uma pergunta recorrente onde quer que eu vá é: “Porque meu cão, que é uma fêmea, “sobe” em minhas pernas e nas pernas de visitas, e fica se esfregando em almofadas e outros objetos, simulando uma cópula?” Você já se perguntou por que alguns cães fazem isso? Será que existem cães “tarados”? Antes de mais nada precisamos entender as razões deste comportamento.

ENTENDENDO O COMPORTAMENTO

O comportamento denominado “monta” observado em cães durante a puberdade é considerado completamente normal. Cães machos têm uma tendência maior para desenvolverem esta prática nesta fase, mas como veremos a seguir, não há nenhuma conotação promíscua nela. No mundo canino é comum cães machos montarem em outros cães machos, fêmeas montarem em outras cadelas e em machos, e até cães montarem em sua própria mãe. Mas antes de presumir que se trata apenas de uma manifestação assexuada ou de prática de incesto entre cães, vamos entender as razões mais comuns para este comportamento.

EXCESSO DE HORMÔNIOS (HIPERSEXUALIDADE)

Uma causa provável para o indesejável comportamento pode ser o início da maturação sexual. Desde a mais tenra idade se pode observar os cães “subindo” nos outros membros da matilha indistintamente, mas na maioria dos casos nesta fase se trata apenas e tão somente de brincadeiras porém, a maioria dos cães aumentam a frequência de monta ao atingir a puberdade, que geralmente se inicia aos 6 meses nas fêmeas, e aos 7 meses nos machos. É o período em que os animais estão com os hormônios literalmente “à flor da pele” e muitas vezes podem transferir estes impulsos à outros animais, pessoas e até à almofadas e outros objetos. Nestes casos, a castração pode ajudar bastante, mas nem sempre resolve o problema. De qualquer forma, a cirurgia de castração dos machos conhecida como orquiectomia (remoção cirúrgica dos testículos) pode diminuir em 60% o comportamento de monta, e deve ser a primeira recomendação para diminuir este problema!

BRINCADEIRA OU DISPUTA HIERÁRQUICA

Relaxe! A maior parte das “montas” não tem função sexual. Cães filhotes e alguns adultos, costumam repetir os movimentos de cópula em outros animais durante brincadeiras de força e submissão. Podemos usar como analogia as brincadeiras de luta entre as crianças. De igual forma os cães brincam de medir força entre eles e uma forma divertida de fazer isso é subindo uns nos outros para evidenciar dominação. Nossa atenção e cuidado apenas devem se restringir a não estimular esta prática para que ela não seja levada à fase adulta pois dentre outros problemas, (além do constrangimento) nem sempre o animal submetido a este comportamento aceita a monta e isso gera brigas.

FALTA DE SOCIALIZAÇÃO OU DESMAME PRECOCE

Com já mencionamos anteriormente os cães enquanto ainda filhotes interagem muito entre si e isto é sumamente importante para o crescimento físico e emocional deles. A interação com outros filhotes da ninhada ou com outros animais no período de socialização (aproximadamente das 3 semanas até os 3 meses de vida) é importante para que cães filhotes aprendam a respeitar outros indivíduos e entendam alguns limites durante a interação com outros animais. Desmamar precocemente e não socializar adequadamente um filhote poderá priva-lo destas interações, com isso, o cãozinho não irá aprender a respeitar alguns limites durante brincadeiras e poderá criar o hábito de montar em outros cães desmedidamente. Portanto, uma dica importante para prevenir este comportamento é respeitar o período mínimo para desmame de 45 a 60 dias após o nascimento e socializar bastante o seu filhote. Nosso conselho é não separar o filhote da ninhada antes dos 70 dias após o nascimento.

EXCESSO DE ENERGIA E TÉDIO

Uma explicação para o comportamento de monta inadequada é a teoria da energia represada. Cães entediados podem transferir a frustração e o excesso de energia para comportamentos muitas vezes indesejáveis aos proprietários, como é o caso da monta. Nestes casos busque direcionar este excesso de energia para algo produtivo, como comandos de obediência proporcionados pelo adestramento. Além disso, tente aumentar a frequência ou a intensidade dos exercícios físicos, isso pode ajudar no controle deste comportamento. Se você passeia por 15 minutos com o seu animal procure aumentar gradativamente para 30 minutos e assim sucessivamente, ou se preferir faça mais passeios ao longo do dia, de preferência sempre nos horários de maior agitação do animal.

BUSCA POR ATENÇÃO

Alguns cães podem continuar a montar mesmo após a castração, isso porque muitas vezes ele associa que quando faz isso na perna do tutor ele consegue a atenção que gostaria, mesmo que seja para receber uma bronca.  Reforçar este comportamento com carinho ou petiscos não é uma boa opção, pois dessa forma o animal certamente irá repetir este comportamento em diversas situações. Por outro lado, a bronca também não é uma boa opção para a correção deste comportamento, pois brigar com seu cão não deixa de ser uma forma de dar a atenção que ele está buscando. Dessa forma, seu cão continuará a pular nas suas pernas para buscar atenção. Uma dica boa é ensinar um comportamento incompatível ao comportamento de monta, ou seja, ensine seu cão a SENTAR ou DEITAR sempre que quiser interagir com você. Com isso, ele entenderá que se ele MONTAR em sua perna você não dará a atenção que ele quer, porém, se ele SENTAR ele terá a sua atenção, carinho e até um petisco caso se comporte bem.

Tente identificar a possível causa deste comportamento no seu animal e aos poucos vá excluindo as possibilidades castrando, socializando, educando, evitando dar atenção na hora errada, etc. Mas lembre-se, em caso de dificuldade busque sempre ajuda de um profissional!

Invista tempo com seu cão!

Até a próxima!

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Psique Canina

Cosmovisão e Cognição Caninas

É bastante comum nos depararmos com relatos de proprietários de cães que traduzem as ações e reações destes segundo as suas perspectivas, humanas. Que lamentável engano!

De pronto temos que fazer saber ao nosso leitor que os cães têm uma visão muito própria acerca do mundo que os cercam. Isto significa que as ações e reações deles embora possam ser comparadas com as quais racionalmente vivenciamos em nosso dia-a-dia, na verdade distam em muito das nossas, isto é, a percepção da realidade e cosmovisão dos cães são muito próprias, são caninas, não humanas. Alexandra Horowitz, Ph.D., nos faz saber que “Ao olhar em volta, o cão não pensa que está rodeado por objetos humanos; ele enxerga objetos caninos.” ¹

Códigos Mais do que Palavras

Quando sabemos disso e avaliamos as atitudes de nossos amigos caninos não mais segundo as nossas próprias percepções, mas sim segundo as percepções deles, estaremos dando um passo gigante em direção a compreensão das suas reações e consequentemente de uma percepção mais nítida, mais aproximada dos seus desejos, necessidades e intenções. Neste ponto, devemos lembrar que o nosso falar para o cão é tão enigmático quanto o latido destes para nós. Os cães reagem segundo os códigos que mesmo sem intenção, criamos e estabelecemos para uma infinidade de ações que resultarão em comunicado expresso ao nosso amigo daquilo que estará por vir. Assim, ele reagirá prontamente a estes códigos, fazendo parecer para nós humanos, que o cão sabe exatamente o que esperamos deles.

Criando códigos

Criamos códigos sem perceber, mas como isso se dá? Simples. Todos os dias em um determinado horário lançamos mãos da guia e da coleira do nosso amigo com a intenção de levá-lo para passear. Imediatamente nosso amigo corre para a porta e espera sentado que coloquemos a coleira em seu pescoço e atrelemos a guia a esta; e, ato contínuo, abramos a porta para sairmos com ele. Não demora muito e perceberemos que sempre que tocamos na coleira e guia o nosso amigo ruma em direção à porta e ali permanece a fim de que seja atrelado a coleira e guia para mais uma prazerosa jornada de trabalho. Então deduzimos: “Nossa, como é inteligente, sabe que iremos passear!”

Você poderia lançar mãos da coleira e guia apenas para mudar o lugar aonde tais objetos permanecerão, mas para o cão esta ação não significa outra coisa senão “ir trabalhar” (erroneamente chamamos de “passear”) e então corre para a porta.

Lógica Humana x Lógica Canina

Théo Gygas ², conhecido cinófilo e ainda hoje referência em adestramento e comportamento canino, relata um episódio muito curioso que exemplifica bem como o cão reage ao que se passa diante de si. Conta-nos ele que certa vez ao passear nas margens de um rio, um garoto com um boné na cabeça se aproximou muito da margem vindo a cair neste. Enquanto o garoto de debatia nas águas para não se afogar, seu boné, mais leve, flutuava à sua frente. Seu cão, que o acompanhava de perto instintivamente saltou na água e salvou primeiramente o… boné! Para o cão, o risco de morte não existia, porém, ao ver o garoto de debatendo nas águas e o boné deste seguindo apressadamente à frente, entendeu que isto significava brincar de pegar a caça, que no caso estava sendo representado pelo boné fujão.

Após “salvar” o boné, o cão retornou à margem com a “presa” na boca. Ao perceberem o boné encharcado na boca do cão, os adultos partiram em busca do garoto, salvando-o da morte certa. O leitor poderá dizer: “Mas, que cão insensato! Melhor seria que salvasse o garoto e deixasse o boné ser levado pela correnteza!” Veja, esta é uma percepção inteligente, lógica, humana, não canina!

Facilitando a Comunicação

Com estes exemplos asseveramos: não deduza as ações e reações do seu cão segundo as suas próprias interpretações. Ele, o seu cão, as vê de forma diferenciada, instintiva e basicamente reforçada naquilo que poderá ser um retorno positivo ou negativo. Neste sentido e, utilizando como mecanismo de comunicação o recurso do condicionamento positivo (Konrad Lorenz) e o reflexo condicionado (Ivan Pavlov), poderemos estabelecer um diálogo que seja mais compreensível para o cão e então obteremos sucesso não somente em nos fazer compreender, mas também de interpretar o que o nosso amigo deseja comunicar-nos, tarefa nem sempre tão fácil dado que, uma vez mais lembramos, o latido dele é para nós tão enigmático quanto as nossas palavras para ele.

Voltaremos a entrar neste tema mais adiante, por hora, compreenda bem que o seu cão não é inteligente; inteligente é você, que com esta faculdade tão singular poderá facilitar grandemente a vida do seu cão, tornando-a mais aprazível ao seu lado, que para o seu amigo, é o melhor lugar do mundo!

Invista tempo com o seu cão!

Até a próxima!

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¹ Horowitz, Alexandra. A Cabeça do Cachorro. 1ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2010. pg 183.

² Gygas, Théo, O Cão em Nossa Casa. 47ª ed. São Paulo: Dicubra, 1970. pg 207.